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A atratividade da pecuária brasileira

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As exportações brasileiras de carne bovina in natura foram recordes em 2019, o que, atrelado ao dólar elevado, resultou em receita em Reais também recorde. E dentre os fatores que favoreceram a pecuária brasileira a atender ao aquecido mercado internacional está a sua maior competividade, o que fica evidenciado pelo custo de produção mais baixo do que os concorrentes. A redução na oferta global, com consequente preço mais alto, também favoreceu as vendas brasileiras ao longo de 2019.

CUSTOS

Dados de 2018 apresentados na última Conferência do Agribenchmark Beef (evento anual que reúne pesquisadores do mundo todo para comparar e discutir dados zootécnicos e econômicos da pecuária de corte de diferentes países), realizado em 2019, na África, mostram que a pecuária de corte brasileira se destaca no comparativo mundial, apresentando um dos menores custos para produzir um quilograma de carne.

Quando considerados os custos de produção de um bezerro, os países mais competitivos nesse sistema de cria são: Ucrânia, Argentina, Uruguai, Brasil, Colômbia, Paraguai, Austrália e África do Sul. É importante notar que a maioria dos países com custo baixo está na América do Sul, região que tem como característica o sistema de criação a pasto.

A Ucrânia registra os menores custos de produção de bezerro no mundo devido à alta qualidade do solo no país, que favorece a produtividade. Segundo dados apresentados na Conferência, o total de custos na Ucrânia para a produção de um bezerro é de aproximadamente US$ 100 a cada 100 kg de carcaça viva, enquanto no Brasil o custo médio das fazendas de cria está por volta de US$ 200/100 kg de carcaça viva. Ressalta-se que, como a pecuária nacional é bastante heterogênea, algumas fazendas levantadas no Brasil apresentam custos próximos a US$ 100 a cada 100 kg, ao passo que, em outras, os gastos estão acima de US$ 200 – com base em dados de 2018.

As fazendas com os maiores custos de produção de bezerro estão localizadas especialmente na Europa, o que está por trás da política de subsídios utilizada no continente.

Para a terminação, os países que apresentam os menores custos no sistema de recria-engorda são a Ucrânia, Argentina, Brasil, Colômbia, Paraguai, África do Sul e Namíbia. Destaca-se, mais uma vez, a maior presença dos países sul-americanos como os mais competitivos.

Na Ucrânia, os custos da terminação foram calculados, em 2018, como sendo abaixo de US$ 200 por 100 quilogramas de carcaça vendida. No Brasil, o patamar de custos varia de pouco mais de US$ 200 até pouco menos de US$ 100 por 100 quilos de carcaça vendida. Essa grande variação se dá pelo sistema adotado, de extensivo até o confinamento no caso brasileiro.

Os maiores custos, por sua vez, novamente são observados em países europeus, que, assim como o sistema de cria, demandam subsídios para a produção – posto que, na maioria dos casos da Europa, o preço de mercado não cobre os custos de produção, inviabilizando a atividade do continente.

Para o Brasil, apesar dos custos mais elevados na recria-engorda, observa-se que parte dos produtores já busca aumentar a produtividade – que, vale lembrar, está muito aquém do potencial. Como exemplo, os Estados Unidos detêm rebanho de 89 milhões de cabeças e a produtividade média é cerca de 133 quilos de carne por animal se bem que a um custo de US$ 356,00 a US$ 407,00/100 kg. Já o Brasil soma rebanho de mais de 200 milhões de cabeças, com produtividade de 45 kg/animal/ano, porém a custo menores, como já mencionado. O potencial de crescimento da atividade no Brasil é uma alternativa para suavizar os custos e continuar sendo um importante player no mercado internacional.

OFERTA GLOBAL

O Brasil, sozinho, é responsável por cerca de 15% da produção mundial da proteína. O País, os Estados Unidos e a China representam, juntos, quase 46% da produção mundial de carne bovina.

Os Estados Unidos são líderes em produção e grandes exportadores, mas também são grandes importadores. Já a China, apesar de ser um grande produtor, enfrenta restrição de área da produção, além de problemas sanitários – como os persistentes casos de Peste Suína Africana (PSA) – que forçam o país a buscar alternativas para compra.

Outros tradicionais países produtores de carne têm desafios relacionados à restrição de área (como Uruguai e Paraguai), a fatores políticos (como a Argentina), a alto custo de alimentação (caso de países europeus e Canadá) e a problemas climáticos (Austrália).

A Austrália, aliás, vem enfrentando intensas queimadas, que devem reforçar a já observada diminuição na oferta doméstica de carne – vale lembrar que o país já foi um importante fornecedor de carnes à China. Destaca-se, ainda, a Índia, que, apesar de possuir um grande rebanho, enfrenta dificuldades em termos sanitários e produtividade, além da questão religiosa.

Thiago Bernardino de Carvalho*. Pesquisador do Cepea – cepea@usp.br

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