De acordo com o coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI, Márcio Rojas, alguns dos impactos mais intensos da mudança do clima serão sentidos no Brasil, onde serão mais severos que a média global. O país tem dimensões continentais e parte considerável localizada naregião tropical, as quais aquecem mais que as oceânicas –
Referendando a fala do coordenador, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) aponta que, nos últimos 60 anos, algumas regiões no Brasil já apresentam aumento na média das temperaturas máximas de até 3oC. Uma análise do World Weather Attribution, com participação de cientistas brasileiros, apontou que a mudança do clima influenciou a onda de calor que ocorreu no Brasil no fim de agosto e início de setembro (curtlink.com/g3sK), em pleno inverno.
De acordo com o IPCC, cada vez mais observaremos aumento na frequência e na intensidade de ondas de calor, intensa precipitação em curtos período ou secas prolongadas, entre outros extremos climáticos, conforme prevê o cenário de aquecimento global. Eventos extremos, que ocorriam uma vez a cada dez anos, passam para três vezes por década. Em um cenário de aquecimento global de 4oC, por exemplo, os extremos podem passar a ocorrer anualmente. Há uma associação umbilical entre a concentração de dióxido de carbono e o aquecimento global. Os efeitos desse fato não se restringem aos países que mais emitem, pois a atmosfera global é única e os efeitos do aumento da concentração de gases de efeito estufa (GEE) impactarão todo o planeta.
Agricultura
A agricultura é tida como uma das fontes emissoras de GEE, parcialmente pela própria produção agrícola, porém em, em sua maioria, por ser atribuída à agricultura o desmatamento e as queimadas nas áreas desmatadas. O que não é verdadeiro, ao menos em nosso país, em que o desmatamento ilegal é fruto de grilagem de terras, ação de madeireiros e garimpeiros ilegais, entre outros.
No entanto, a agricultura pode ser utilizada para reduzir as emissões, seja pelo sequestro e fixação de carbono, ou pela substituição de fontes de energia fóssil como petróleo, carvão e gás (os grandes responsáveis pelas emissões de GEE no mundo) por biocombustíveis e bioeletricidade. O Brasil fornece exemplos práticos concretos, como o plano ABC+ e as tecnologias de produção agrícola denominadas de carbono neutro
De 30/11 a 12/12/23 será realizada, em Dubai, a COP 28 (cop28.com), o fórum máximo global, no qual os países tentarão encontrar fórmulas para reduzir o impacto e o alcance das mudanças climáticas em curso. Como sempre, a produção agrícola será um dos principais temas das discussões, as quais fundamentam as decisões a serem tomadas pelos governos dos países participantes.
Ciente da responsabilidade que pesa sobre os ombros do nosso país – um dos líderes da produção agrícola mundial – a CNA, como órgão máximo de congregação dos produtores agrícolas do país, busca ativamente colaborar com as discussões que ocorrerão durante a COP 28.
Para tanto, elaborou um sólido documento que consolida a visão da entidade, plasmando um consenso entre as lideranças agrícolas e os produtores da importância de uma posição firme do setor, uma sólida contribuição para a delegação brasileira na COP 28. Referido documento pode ser acessado na íntegra em https://curtlink.com/tnb5.
De sua leitura depreende-se que se trata de um documento sólido, profundo, muito bem estruturado e fundamentado, que aponta com clareza os aspectos essenciais que devem balizar as discussões na COP 28, para que as decisões sejam benéficas para o planeta como um todo, e para cada país em particular. Mostra como o setor agropecuário brasileiro pode colaborar para o alcance das metas a serem definidas pelos países, os aspectos colaborativos entre os eles (incluindo setores públicos e privados), a importância transcendental do financiamento das ações para atingimento das metas, entre outros aspectos.
Sem dúvida o documento preparado pela CNA será extremamente útil para balizar os posicionamentos da delegação oficial do Brasil na COP 28, e bem representa os interesses maiores do país, acima dos interesses específicos dos produtores rurais.
Por Décio Luiz Gazzoni, Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica.
Fonte: CCAS