Embora continue oferecendo apoio total à Ucrânia, a União Europeia vem enfrentando, internamente, desdobramentos inesperados nesse apoio. Caso, por exemplo, da exportação ucraniana de produtos agropecuários – aqui inclusa, por exemplo, a carne de frango – motivo de queixa por parte de países-membros da UE –
Como, com a guerra, a Ucrânia perdeu a rota marítima na exportação de seus bens agrícolas, a UE procurou minimizar o problema, abrindo caminho terrestre para as exportações ucranianas. Criou a chamada “Rota da Solidariedade”.
A meta era garantir a chegada aos mercados externos à UE. Mas o objetivo acabou parcialmente desvirtuado, visto que grande parte do produto exportado pela Ucrânia “perdeu-se” nos países-membros da UE, derrubando preços e ocasionando dificuldades econômicas para o setor agropecuário.
Não por menos, países como Polônia, Hungria e Eslováquia decidiram contrariar a Comissão Europeia e, simplesmente, vão proibir a importação de cereais produzidos na Ucrânia.
A guerra, agora, chegou à indústria do frango. Pois avicultores franceses, através da Associação de Processadores e Comércio de Aves da União Europeia (AVEC, na sigla em francês) denunciam a concorrência, a baixos preços, “de um país que pede solidariedade e respeito pelas regras do livre-comércio”.
A invasão de frangos ucranianos aumentou desde que a UE suspendeu, em maio do ano passado, as taxas aduaneiras incidentes sobre a importação de países não-membros. Oficialmente, as importações do primeiro semestre, embora consideradas “ínfimas” para os padrões franceses, aumentaram 74%, correspondendo a menos de 1% das importações do país.
“Mas esses números não refletem a realidade”, reclama um dirigente da AVEC, observando que grande parte da carne de frango proveniente da Ucrânia entra “disfarçada” na França, pois passa, antes, por indústrias dos países-membros, que não são obrigadas a declarar a origem do produto.
Citando dados da União Europeia, agências de notícias mencionam que nos primeiros cinco meses do ano as importações de aves de origem ucraniana representaram, em volume, 27% do total das importações da UE, ficando atrás do Brasil (36%) e à frente da Tailândia (19%). Isto, contra apenas 13% em 2021.
Consultor Sênior de Políticas da AVEC, Paul-Henri Lava menciona que em 2022 a metade dos frangos consumidos na França foi importada. E ressalta: “Mas enquanto Brasil ou Tailândia estão sujeitos a cotas, a Ucrânia não enfrenta qualquer restrição”.
Observa, ainda, que devido à proximidade geográfica, a Ucrânia pode exportar frango resfriado com custos de produção mais baixos do que nos países-membros da UE, o que, a seu ver, representa “concorrência desleal”.
Fonte: AviSite