Agência Lusa –
O Presidente Alberto Fernández tenta gerir a crise política provocada por 11 demissões de ministros, presidentes de empresas estatais e diretores de organismos públicos –
© Foto: ALEJANDRO PAGNI/Getty Images Alberto Fernández –
O Presidente argentino decide hoje como enfrentar o vazio de poder provocado por múltiplas renúncias de ministros, ordenadas pela vice-presidente, Cristina Kirchner, que, exigindo uma reforma ministerial, abriu uma crise institucional sem precedentes no país com final incerto.
Após 11 demissões de ministros, presidentes de empresas estatais e diretores de organismos públicos, o Presidente Alberto Fernández recebeu o apoio dos ministros que não renunciaram, de governadores provinciais e de sindicalistas, apoios que visam preencher o vazio de poder provocado pela disputa com a sua própria vice-presidente, Cristina Kirchner.
“Todo meu apoio a Alberto Fernández”, disse a ministra da Segurança Pública, Sabina Frederic. “Meu total e incondicional apoio ao presidente Alberto Fernández”, declarou o ministro do Transporte, Claudio Moroni.
Diversas organizações sociais pretendem marchar hoje para demonstrar apoio ao Presidente, mas a fratura no comando do país já está exposta.
Tensão provocada pela vice-presidente
A tensão é provocada por Cristina Kirchner, que exige mudanças de ministros, a começar pelo chefe do gabinete, Santiago Cafiero. A vice-presidente considera que só alterações significativas podem permitir ao Governo dar um sinal que reverta a dura derrota eleitoral nas eleições primárias do passado domingo.
Para o Presidente, as mudanças só deveriam vir depois das eleições legislativas de 14 de novembro.
Para pressionar as mudanças que o Presidente não quer, Cristina Kirchner deu ordens de renúncias em massa. Um a um, seis ministros (Interior, Justiça, Ambiente, Ciência e Tecnologia, Cultura e Desenvolvimento Territorial) e cinco secretários de Estado, presidentes de empresas e diretores de instituições públicas pediram demissão dos seus cargos esta semana, abrindo uma crise cujo desenlace ameaça a governabilidade do país.
“O Presidente não pode resistir a uma mudança ministerial depois de uma derrota tão contundente. Seria um risco não mudar ninguém. Porém, se mudar agora vai demonstrar fraqueza e ceder poder a Cristina Kirchner. Se não mudar ninguém, vai fraturar definitivamente a relação com a sua vice”, observa o analista político Rosendo Fraga.
Apesar de vice, Cristina Kirchner é quem detém o poder real dentro do Governo, como sustentam analistas.
“Uma vice-presidente que provoca um vácuo no poder tenta dar um golpe de Estado”, denunciou Elisa Carrió, uma das líderes da oposição, quem pede ao Presidente que “resista para evitar um golpe e a radicalização pretendida por Cristina Kirchner”.
“Com a ordem de renúncias, Cristina Kirchner está a dar um ultimato ao Presidente para mudar a equipa de Governo como uma resposta às urnas. Ela quer impor os seus referentes e incidir ainda mais no comando do Governo”, interpreta o analista político Lucas Romero, diretor da consultora Synopsis.
Eleições primárias das legislativas
No domingo, o governo sofreu uma dura derrota nas eleições primárias legislativas que tende a ser irreversível. Na prática, a magnitude da derrota enterra o objetivo de controlar o Parlamento e traduz-se numa reprovação da gestão do Presidente Alberto Fernández, na metade do seu mandato.
As eleições primárias na Argentina são uma das poucas no mundo abertas e obrigatórias a toda a população. O voto vai àquele a quem o eleitor gostaria de ver como candidato, mas, ao fazê-lo, o eleitor revela em quem votará nas eleições gerais em 14 de novembro, antecipando o resultado.
Como resposta à derrota, o Presidente prefere medidas económicas para recuperar o poder aquisitivo e o Governo prepara uma bateria de medidas para injetar dinheiro na economia através de aumento no salário mínimo, nas reformas e nos planos de assistência social.
Crise económica e financeira
Porém, devido à falta de recursos financeiros, o dinheiro viria de mais emissão de dívida, alimentando uma inflação anual que acumula 51,4%, um dos motivos para a derrota eleitoral de domingo.
“São todas medidas populistas para um Estado sem dinheiro. O custo virá depois das eleições de novembro. Até ontem a pergunta era: como a economia chegará até novembro? Com esta crise institucional, a pergunta agora é: como farão para governar mais dois anos? A situação económica é extremamente delicada”, alerta o economista Roberto Cachanosky.