Dagoberto Lima Godoy –
Você pode estar perplexo com a situação atual, abismado diante da sucessão de medidas estapafúrdias do governo Lula na condução da economia nacional. Como interpretar tantos e tão evidentes erros, senão como produto da tremenda incompetência característica de regimes do tipo de “socialismo bolivariano” que Lula não se cansa de elogiar e apoiar, ele e seus comparsas do tal Foro de São Paulo.
Mas será mesmo só incompetência e miopia ideológica? Ou se trata, de fato, do desdobramento do projeto intentado pela esquerda durante o governo militar, cuja posta em prática segundo a receita trotkista de luta armada acabou naufragando diante da repressão aplicada na mesma moeda? O que se sabe agora é que, com a tão comemorada redemocratização e com a Constituinte de 1988, o mesmo projeto revolucionário, longe de ser abandonado, foi como que modernizado com uma mudança de métodos, vindo Trotsky a ser substituído por Antonio Gramsci e sua sofisticada estratégia de busca do poder hegemônico através da “conquista de corações e mentes” (no Brasil, energizada por Paulo Freire, não por acaso elevado à excelsa posição de patrono da educação nacional). Então, iniciou-se uma sistemática e insistente infiltração da doutrina revolucionária no tecido sociopolítico nacional, habilmente revestida de propostas de justiça social, mas conducente a um modelo de democracia totalitária, do tipo que impõe um consenso que não admite dissenso, porque pretende ser o consenso de todos.
Sob o manto licencioso do regime democrático instituído pela Constituição de 88, tão rico em direitos sociais garantidos pelo Estado quão pobre em deveres de cidadania, a implementação da estratégia gramscista avançou em duas frentes políticas, atuando como adversárias nas eleições, mas convergentes em seu âmago socialista. De um lado o PSDB de FHC, tendo como inspiração e modelo as sociais-democracias dos países nórdicos da Europa; de outro lado, o PT de Lula, em sua dissimulada adoração do comunismo chinês, com derivativos latino-americanos já vigentes na Venezuela, na Nicarágua e afins.
A primeira eleição de Lula à Presidência injetou entusiasmo bastante para que a ala petista avançasse sobre redutos da política tradicional com uma ação mais desinibida de recrutamento, com destaque para o “mensalão”, a manobra sórdida de suborno de parlamentares que Lula publicamente assumiu, sob a justificativa de se tratar de algo “que os outros sempre fizeram”. Desmascarada a vilania, o projeto retraiu-se na forma consagrada de governo de coalisão, sustentado pelo loteamento dos ministérios e a distribuição de cargos, incluindo os da alta direção de empresas estatais Ajudado pela conjuntura internacional favorável, Lula não só se reelege como consegue passar o bastão presidencial para o “poste” de sua preferência, com o que chegamos ao malfadado governo Dilma e ao quadro que, pela primeira vez, pareceu deixar clara a tentativa de partir para a fase final e decisiva de tomada do poder e ultimação da mudança de regime.
Dilma mostrou-se disposta a “fazer qualquer coisa” para levar à frente o projeto, para tanto avançando em três eixos de ação desgovernante: a continuidade da coalisão espúria sustentada pelo loteamento da administração e a distribuição de benesses do erário; a cumplicidade com o paroxismo de corrupção desmascarado pela Lava-Jato; e, afinal, com a implementação da incrível “nova matriz econômica” que levou a economia nacional à beira do abismo. A antecipação precipitada da estratégia fracassou com o impeachment e a eleição de Bolsonaro, mas pode ter revelado a estratégia que, segundo tudo indica, viria a ser novamente adotada depois da volta de Lula “à cena do crime” (na inspirada imagem do seu vice-presidente e incoerente aliado). E, estarrecido, observo agora a repetição do quadro de desgoverno, tantas e tão disparatadas são as ações da gestão petista, emoldurada pelo igualmente incrível “arcabouço fiscal” de Hadad, que nada mais faz do que endossar a gastança irresponsável e ir fundo na sangria do sistema produtivo através da criação manipulada das regras fiscais.
Ao ver o que parece um esforço voluntário do governo para provocar o caos econômico – tantas são as medidas absurdas que vem se sucedendo – chego a pensar que isso possa ser a repetição da estratégia antes tentada por Dilma: um plano revolucionário para estender o caos da economia aos campos social e político, a fim de criar a condição para o arremate revolucionário e a imposição de uma ditadura política, nos moldes do “socialismo bolivariano” tão admirado por Lula e seu partido.
Uma hipótese conspiratória? Dirá você: “Se assim for, haverá de fracassar como a pretensa tentativa anterior”. Respeito a sua opinião, mas pense bem: daquela feita, Dilma ainda não contava com a escalada do globalismo, com suas sofisticadas bandeiras de grande apelo popular, alicerçadas em teses tidas como altamente científicas: aquecimento global, crise climática, superpopulação, identidade de gênero; ou em maximização das ameaças com o propósito de semear o pânico e aumentar a dependência das pessoas em relação ao governo; tudo isso propagado pela mídia nacional subvencionada, em coro com a mídia global. E, mais, Dilma não tinha como aliada uma Suprema Corte partidarizada e desinibida em seus desmandos contra a própria Constituição sob seus cuidados. Finalmente, mas não menos importante, não dispunha de Forças Armadas aparentemente domesticadas, prontas a obedecer a ordens infames, como ocorreu na triste data de 8 de janeiro de 2023.
Estarei alucinando?
Talvez, mas não completamente. Tanto é que alimento a esperança de que o tiro saia pela culatra, lembrando quão decisivo é o estado da economia na mobilização das massas populares, como enfatizou o marqueteiro da campanha presidencial de Bill Clinton, em 1992, cunhando a expressão que ficou famosa: “It’s the economy, stupid!“ (É a economia, idiota!). Pois penso que é justamente em função do desastre econômico que vem sendo semeado pelo governo Lula que posso ainda esperar uma reação dos meios econômico e (por decorrência) político, a ponto de chegar a um impeachment ou, mais adiante, em eleições isentas de manipulações eletrônicas ou judiciais, a uma derrota de Lula, PT “et caterva”, estancando o desmantelamento da democracia e restaurando o estado de direito em nosso país.
* O autor é engenheiro civil, mestre em Direito, empresário e escritor.