A União Europeia pediu hoje às autoridades cubanas para autorizarem as manifestações e “escutassem” o descontentamento da população, na sequência das manifestações históricas em toda a ilha –
LUSA –
“Apoiamos o direito das pessoas se exprimirem de forma pacífica e pedimos às autoridades que autorizem essas manifestações e ouçam a insatisfação dos manifestantes”, declarou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, após um encontro de ministros dos Negócios Estrangeiros europeus em Bruxelas.
O representante da UE para a Política Externa explicou que a situação em Cuba não estava na ordem do dia do Conselho já que os acontecimentos se têm desenrolado nas últimas horas.
“Discuti com os colegas as notícias que chegavam de Cuba. Pelo que sabemos, houve manifestações importantes num número significativo de cidades para protestar contra a falta de medicamentos, a propagação da covid-19 e também protestos contra o regime”, disse.
O político espanhol destacou que se trata de uma “manifestação de descontentamento que atingiu uma dimensão que não se conhecia desde 1994”.
Borrell observou que houve um “número significativo de manifestações e houve também uma resposta das forças de ordem que, por agora, tem sido feita de uma forma que não tem significado confrontos particularmente violentos”, de acordo com as notícias que dispõe.
Em qualquer caso, afirmou que “tudo deve ser dito com muito cuidado e atenção porque os acontecimentos podem mudar nas próximas horas”.
“O tema não foi objeto de discussão, mas, certamente, quero destacar o direito do povo cubano de expressar as suas opiniões de forma pacífica”, frisou.
Segundo fontes europeias, Borrell mencionou na reunião de ministros a situação de Cuba “sem elaborar”, “sem pronunciar-se” e sem avaliar “de forma muito adjetiva” e “sem profundidade”.
As fontes justificaram que as manifestações em Cuba não tiveram mais destaque nesta reunião de ministros por se tratar de uma situação “subsequente” e, por isso, é “prematuro” prenunciarem-se sobre o assunto.
Este processo “político-social” deve ser visto caso “se prolonga ou adquira um cariz mais consistente” para poder analisar a situação com maior perspetiva na ilha caribenha, segundo as fontes.
Milhares de cubanos saíram às ruas no domingo para protestar contra o governo gritando “liberdade!” num dia sem precedentes, que resultou em dezenas de detenções e confrontos depois de o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, pedir aos seus apoiantes para enfrentar os manifestantes e defender a Revolução.
Estes foram os maiores protestos contra o governo de que há registo em Cuba desde o chamado “maleconazo”, quando em agosto de 1994, em pleno “período especial”, centenas de pessoas saíram às ruas de Havana e não se retiraram até à chegada do então líder cubano Fidel Castro.
Desde o início da pandemia da covid-19, em março de 2020, os cubanos enfrentam maior escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, o que gerou um forte mal-estar social.