Mariana Ribeiro Soares – RTP ©
Tatyana Makeyeva – Reuters Um estudo publicado esta semana na revista “Nature” demonstra que apenas dez por cento das pessoas vacinadas com uma dose da vacina da AstraZeneca ou da Pfizer desenvolveram anticorpos capazes de neutralizar a variante Delta, mas 95 por cento geraram uma resposta neutralizante após a segunda dose.
O estudo desenvolvido por investigadores franceses analisou se os anticorpos produzidos em pessoas que receberam uma ou duas doses das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca foram capazes de neutralizar a variante Delta. Os resultados trazem boas e más notícias.
A análise sugere que apenas uma dose destas duas vacinas não é capaz de gerar níveis suficientes de proteção contra esta variante, detetada pela primeira vez na Índia e que se estima ser 60 por cento mais transmissível.
Após uma primeira dose da vacina da Pfizer ou da AstraZeneca, o estudo conclui que os níveis de anticorpos neutralizantes foram “pouco ou nada eficientes” contra a variante Delta, mas também contra a variante Beta (originária da África do Sul).
No entanto, os investigadores apontam que ambas as vacinas foram capazes de gerar “uma resposta neutralizante que visou eficazmente a variante Delta” após a administração da segunda dose em 95 por cento dos indivíduos, embora o nível de proteção seja ligeiramente inferior ao conferido a outras estirpes do vírus. Segundo o documento, “os anticorpos são três a cinco vezes menos potentes contra a variante Delta do que contra a variante Alpha”.
Tal como explica o estudo, apenas 13 por cento dos participantes desenvolveram anticorpos contra a variante Delta com apenas uma dose da vacina da Pfizer. Por sua vez, 81 por cento dos indivíduos neutralizaram a variante Delta após a segunda dose. Esta percentagem manteve-se estável para as restantes variantes analisadas, com exceção da Beta, que revelou uma eficácia contra a variante Delta em apenas 46 por cento do total dos 162 participantes.
Com a vacina da AstraZeneca foi observado um padrão semelhante. Do total dos participantes, 61 por cento gerou anticorpos contra a variante Alpha (detetada pela primeira vez no Reino Unido), mas apenas quatro e nove por cento dos soros analisados conseguiram neutralizar as variantes Beta e Delta, respetivamente. Por sua vez, quatro semanas após a segunda dose desta vacina, 95 por cento dos indivíduos foram capazes de neutralizar as três variantes.
Os investigadores analisaram também amostras de sangue de pessoas que recuperaram da infeção por Covid-19 e concluíram que os anticorpos eram quatro vezes menos eficazes contra as variantes Delta e Beta, em relação à variante Alpha. No entanto, com a administração de apenas uma dose das vacinas, foi observado um “aumento drástico de anticorpos neutralizantes contra as variantes Alpha, Beta e Delta”.
Pfizer quer uma terceira dose da vacina
Apesar dos resultados promissores, a Pfizer e a BioNTech anunciaram em comunicado, partilhado na quinta-feira, que já fabricaram uma nova versão da sua vacina projetada especificamente para combater a variante Delta, que está já presente em 98 países.
A Pfizer vai submeter um pedido em agosto aos reguladores dos Estados Unidos e da União Europeia para administrar esta terceira dose da vacina, esperando iniciar os testes clínicos ainda nesse mês. A Pfizer baseou o seu pedido num estudo anterior ao publicado agora na Nature, conduzido em Israel, cujos resultados preliminares revelam uma queda na eficácia da vacina contra a infeção com a variante Delta para os 64 por cento. O estudo, que ainda não foi publicado, refere, porém, que a vacina da Pfizer é 93 por cento eficaz contra doença grave e hospitalização.
Segundo os dados preliminares fornecidos pela Pfizer e BioNTech, que ainda não foram revistos por especialistas independentes ou publicados num jornal científico, uma dose de reforço administrada seis meses após a segunda dose aumentaria ainda mais os anticorpos contra a variante Delta, entre cinco a dez vezes mais.
“Com base na totalidade de dados de que dispomos até o momento, a Pfizer e a BioNTech acreditam que uma terceira dose pode ser benéfica para manter os mais altos níveis de proteção”, referem as empresas farmacêuticas norte-americana e alemã no comunicado.
A variante Delta está já disseminada em 98 países e regiões e a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê mesmo que no final de agosto represente 90 por cento dos novos casos na União Europeia.
Em Portugal, esta variante mais contagiosa é já dominante, sendo responsável por perto de 90 por cento das infeções.