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Descolamento econômico pantaneiro

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Por: Vivaldo Lopes –

Nos últimos anos, a dinâmica econômica de Mato Grosso apresenta expressivo descolamento do baixo desempenho da economia do país. Em 2022 não será diferente. Enquanto o PIB brasileiro terá crescimento percentual próximo de zero, a economia estadual crescerá entre 3,5 e 5%.

A desaceleração da economia nacional é explicada pela lenta retomada do setor de serviços e pelo baixo desempenho da indústria, muito afetada pela redução do consumo de bens duráveis, aumento extraordinário dos custos de insumos e quebra na cadeia mundial de suprimentos. A aceleração da inflação, alta da taxa básica de juros, incertezas fiscais, queda da renda e elevada taxa de desemprego atuam como inibidores do crescimento nacional.

Já o desempenho mais robusto de Mato Grosso é explicado pelo bom desempenho do setor agropecuário, construção de novas plantas industriais, avanço da cadeia produtiva do etanol de milho, investimentos privados em rodovias cujas concessões foram leiloadas em 2021 e que exigem obras de ampliação, duplicações, melhorias e a início da construção de dois trechos ferroviários (Rondonópolis-Cuiabá-Lucas do Rio Verde) e outro que liga Mara Rosa, em Goiás e Água Boa (MT). Somam-se aos investimentos privados a grande quantidade de obras de infraestrutura econômica e social anunciadas pelo governo estadual. Segundo estudo do IBRE/FGV, a administração estadual investiu em 2021 o montante de R$ 3,85 bilhões. Deve investir outros R$ 4,0 bilhões ao longo de 2022, predominantemente em pavimentação de rodovias, pontes de concreto, educação, saúde e segurança.

Todos esses investimentos privados e públicos são impulsionadores do emprego e da renda em todas as regiões geográficas do estado.

O setor de serviços (intermediação bancária, seguros, mercado de crédito, comércio atacado e varejo amplo, administração pública, construção civil), é o principal componente do PIB estadual. Mesmo assim, a economia de Mato Grosso ainda tem no setor agropecuário a principal força motriz que impulsiona os demais setores. A cadeia produtiva do agro é longa. Para se produzir uma tonelada de grãos ou carnes e transformá-la em óleo, ração animal, alimento humano ou entregar em um porto marítimo para exportação, são envolvidas em torno de trinta e cinco atividades econômicas diversas que vão desde a contratação do crédito em um banco ou no mercado de capitais, seguros, aquisição de sementes, importação de insumos e fertilizantes, vendas de colheitadeiras, tratores, máquinas e implementos agrícolas, caminhões, corretagens, transportes, telecomunicações até a contratação de serviços de tecnologia avançada, ativando, por conseguinte, os demais setores da atividade econômica. Com os preços internacionais das principais mercadorias agropecuárias em alta, clima favorável e consumo doméstico e global aquecidos, a safra de grãos de 2022 será a maior da história, mantendo ao estado o título informal de campeão nacional da produção agropecuária.

O descolamento econômico pantaneiro prevaleceu na última década, puxado pela produção primária agroexportadora. O estado transformou-se em uma verdadeira plataforma exportadora de bens primários. Mato Grosso ocupou a posição de potência agrícola mundial e melhorou seu posicionamento no cenário econômico nacional. Mas isso não durará para sempre. O ciclo virtuoso das commodities agrícolas pode não perdurar por muito tempo. A agro-dependência pode retardar a evolução da economia mato-grossense para um estágio mais desenvolvido de uma economia industrial e de serviços. O crescimento dos três setores não são excludentes. Ao contrário, é saudável que o estado avance em sua  industrialização, modernize seu setor de serviços, ao mesmo tempo em que o agro segue sua vitoriosa trajetória de mais dinâmico e produtivo do país.  A acumulação de capital e conhecimento alcançados nas décadas de opulência agropecuária podem e devem ser bem utilizados para atingirmos “outro patamar”, na economia brasileira e mundial, como diria o intelectual e craque flamenguista Bruno Henrique.

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