sexta-feira, março 29A NOTÍCIA QUE INTERESSA
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Na censura às supostas “fake news”, a maior vítima é a responsabilidade individual

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Brittany Hunter –

Somente o indivíduo é o responsável por seu consumo de informações

Antes de falar sobre “fake news” e a maneira correta de combatê-las, é imprescindível falar sobre liberdade de expressão e seus limites. 

Sejamos diretos: a liberdade de expressão não se aplica à propriedade privada alheia. Uma pessoa tem “liberdade de expressão” apenas em sua própria propriedade ou na propriedade de alguém que concordou voluntariamente em lhe conceder o espaço determinado.

Logo, não existe isso de “direito à liberdade de expressão” nas redes sociais; existem apenas direitos de propriedade. Você pode falar o que quiser em sua propriedade, mas não na propriedade alheia. Consequentemente, se uma determinada plataforma ou rede social (que são instituições privadas) decide banir usuários ou retirar páginas do ar, paciência. É um direito dela.

Ademais, embora sejamos totalmente livres para discordar dessa decisão das redes sociais, e também sejamos livres para estimular boicotes à grande mídia quando esta divulga notícias que julgamos incorretas, tal postura ignora o cerne da questão: Facebook, YouTube, Twitter, Instagram e toda a grande mídia não são os responsáveis pela difusão de notícias falsas e de informações incorretas, por mais que nossa crença neste fato reforce nossa própria narrativa.

Ao fim e ao cabo, a única pessoa responsável por diferenciar fato de ficção é o indivíduo.

A responsabilidade individual ainda existe

Quando eu era criança, costumava ir com minha mãe ao supermercado. Na fila do caixa, eu sempre olhava maravilhada para os tablóides sensacionalistas que ficavam à mostra nas prateleiras ao lado. “Saddam Hussein, na realidade, é uma mulher”, dizia uma manchete. Outra anunciava uma entrevista exclusiva com um homem de quatro cabeças. Outra alegava um furo inédito: o exorcismo de um gato demoníaco.

Mesmo ainda criança, eu já entendia que aquelas manchetes eram falsas. Mas ainda assim eu ficava confusa.

“Por que essas revistas podem contar mentiras? Isso não deveria ser ilegal?”, perguntei para minha mãe. “E se alguém acreditar nelas?”.

“Algumas pessoas de fato acreditam nelas”, respondeu minha mãe, que então me contou sobre uma amiga de infância que nunca perdia uma edição do World Daily News [site que divulga intencionalmente notícias falsas para enganar leitores ingênuos].

E prosseguiu: “Mas cada pessoa é responsável por tomar estas decisões por conta própria”.

A liberdade de escolher e de pensar por conta própria é um dos mais sagrados atributos do indivíduo. Porém, infelizmente, nos últimos anos, várias pessoas adotaram a atitude de colocar suas preferências políticas acima da responsabilidade individual.

A política criou um divisor: todos acusam aqueles com opiniões diferentes de estarem divulgando informações falsas.

E, apenas para deixar claro, no mundo político, há muita informação falsa. Faz parte do jogo. E isso não é exclusividade de um lado: todos são culpados. Só que, recentemente, a coisa ficou fora de controle, de modo que, para censurar “fake news” políticas, as pessoas estão recorrendo até mesmo à desculpa de “mau comportamento”.

Por exemplo, quando o Facebook e o YouTube são pressionados e acabam banindo determinados usuários, a alegação é que tais pessoas “violaram seus respectivos termos de uso”. Mais especificamente, as gigantes das redes sociais alegam que os usuários foram banidos porque incorriam em “discurso de ódio” e faziam “bullying”, e não porque espalhavam “informações falsas”.

Só que, embora neguem que o banimento de determinados usuários e páginas tenha a ver com o temor de estarem disseminando informações falsas, a verdade é que esta é exatamente a causa do banimento. Afinal, é exatamente por medo de que as pessoas irão simpatizar com tais visões, que essas organizações tomaram a decisão de censurar informações que elas consideram ser falsas ou incorretas.

Afirmações falsas e opiniões consideradas abomináveis sempre existiram e sempre existirão, estejam seus portadores nas redes sociais ou não. No entanto, há uma grande vantagem em permitir que tais pessoas possam expressar livremente suas visões nas redes sociais: isso permitirá às demais pessoas tomarem suas próprias decisões quanto a estas visões. E se estas decisões incluírem a opção de julgar alguém tendo por base sua cor, sua religião, sua nacionalidade, seu gênero ou sua orientação sexual, então ao menos você já saberá quais pessoas deve evitar em seu convívio. 

Ao permitir que as pessoas livremente se associem a outras pessoas que você considera repugnante, isso lhe permitirá fazer um uso ainda melhor dessa mesma liberdade: você poderá optar por se afastar dessas pessoas. Isso vale tanto para pessoas que pensam diferente em questões mais explosivas como raça, sexualidade e religião, quanto para pessoas que pensam diferente em coisas mais prosaicas como economia e política.

Eventuais “discursos de ódio” ou mesmo “difusão de idéias erradas e notícias falsas” deveriam ser vistos como um sintoma social, e não uma desculpa para censura e banimentos.

A melhor maneira de combater idéias ruins é com idéias boas. Ao permitir uma miríade de opiniões diferentes circularem livremente nas redes sociais, você dá a todos os indivíduos a oportunidade de julgar os méritos de cada opinião e, assim, tomarem suas próprias decisões. E se as idéias que você defende são realmente as “verdadeiras”, então não há nada a temer.

Pedir a censura ou até mesmo a prisão de alguém que espalha “fake news”, de alguém que diz algo com que você não concorda, ou mesmo de alguém que diz algo que você considera imoral e repugnante, apenas mostra sua insegurança. Você teme aquilo que está sendo dito. Você teme que tais idéias ganhem seguidores. Você teme que seu político de estimação seja prejudicado. Você teme que suas ideias percam espaço. E teme não saber contra-argumentar.

Há um enorme mercado de idéias em que diferentes pontos de vista concorrem entre si. Se nós, como indivíduos, acreditamos que nossa visão é a “certa”, a “moral” ou apenas a “boa”, então deixemos que ela concorra por seus próprios méritos no mercado de idéias.

Por fim, há também aqueles que dizem que “fake news” e “discursos de ódio” devem ser banidos pelo bem do “tecido social”, e também para evitar que a sociedade fique “politicamente dividida”. Dizer o quê? Se o fluxo de informações, verdadeiras ou falsas, pode afetar a convivência das pessoas e esgarçar o tecido social, então a verdade é que esse tecido social nunca foi muito forte, e iria se arrebentar de qualquer jeito.

O que fazer?

Logo, se Facebook, Twitter, YouTube e Instagram podem, mas não devem, banir usuários e postagens das quais não gostam, e considerando que o estado certamente não deve censurar opiniões ou controlar a disseminação de informações, o que então podemos fazer para estancar a difusão de informações falsas?

A resposta, que certamente irá incomodar a muitos, é uma só: absolutamente nada.

Tudo o que você pode fazer é criar e circular informações, e acreditar que suas idéias são robustas o bastante para falar por si sós, e com isso convencer as demais pessoas.

Somente o indivíduo é responsável por seu consumo de informações. Se uma determinada pessoa opta por acreditar em coisas erradas, ou se ela não quer checar a veracidade das coisas que lê e ouve, ela própria sofrerá as consequências. Isso se chama responsabilidade individual.

Ao constantemente tentar censurar e banir tudo de que não gosta, você, na prática, está dizendo que todos os outros indivíduo são incapazes de tomar a decisão correta por conta própria. E isso, além de arrogante, é uma postura totalitária.

Brittany Hunter é fundadora do website generationopportunity.org e membro da Foundation For Economic Education.

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